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quarta-feira, novembro 30, 2005

LIVRE OPINIÃO
Tempo Livre #5

» Um futebol de hábitos diferentes

Emil Kostadinov, antigo jogador do FC Porto, durante o USA'94

"Quando nasci, o meu clube não ganhava o campeonato há três anos. Curiosamente, o Sporting não ganha o campeonato há três épocas. Na altura, não se devia esperar que o jejum fosse tão longo. Nem eu tinha noção disso. Com 5 anos comecei a atribuir muita importância ao futebol. Aprendi a ler na revista anual do jornal A Bola e nasceu-me uma grande paixão pelo Sporting. Lembro-me vagamente da grande presença do Sporting na Uefa na época que chegou às meias-finais. Nos anos seguintes, fui percebendo o que era realmente o futebol, a decorar de cima a baixo os jogadores da Primeira Divisão, os golos marcados, as equipas onde jogaram, as épocas... e inclusivamente a altura e o peso.

O futebol do início dos anos 90 (até 93/94) é aquele que mais saudades me traz. Nessa altura, grande parte dos jogos eram disputados ao Domingo à tarde. Para mim, pouco importava até porque era novo demais para ir ao futebol e os meus pais nunca foram adeptos disso. No entanto, o Domingo à tarde tinha um carácter sagrado. Semanalmente, lá estava eu de ouvido na telefonia a ouvir Ribeiro Cristóvão, Fernando Correia e António Perestrelo, os nomes grandes da Rádio de então a darem-me as novas do futebol português.

Todos os jogos eram importantes, todas as divisões interessavam. Tenho saudades desse tempo. Nessa altura, não havia Sporttv e a RTP transmitia no máximo dois jogos por fim-de-semana, o que vinha dar maior importância aos jogos que davam, à possibilidade de ver 90 minutos de futebol. Lembro-me de ter feito uma guerra com a minha irmã mais velha para ver um Farense-Braga na RTP2 num Sábado à noite no Inverno. Os relvados não eram como são hoje, os equipamentos eram diferentes, mas a minha necessidade de ver o Farense de Hassan contra o Braga dos Chiquinhos e Forbs era intensa.
Tenho saudades dos fins-de-semana com chuva passados em casa a ouvir os relatos. Dos jogadores da Europa de Leste, um mercado tão bom que Portugal subvaloriza neste momento. O Sporting de Balakov e Iordanov (porque não Guentchev?), Juskowiak e Cherbakov, o Benfica de Yuran e Kulkov, o Porto de Mitharski e Kostadinov.

Na altura não havia Livescore.com, na altura não havia jornais online que acompanhassem os jogos em directo e muito menos blogs. A RTP2 tinha um projecto interessante, o "Na Hora". E era exactamente isso que eles faziam, actualizavam os resultados NA HORA enquanto transmitiam jogos da Lázio de Signori.
O futebol pode estar melhor, muito melhor, do que era há dez/quinze anos atrás, mas não consigo olhar para ele com a mesma magia que olhava dantes.

O Estoril de Borreicho, Passos e José Carlos, o Belenenses de Mauro Airez e Taira, o Famalicão de Mourato e Mitharski, o Paços de Jussie e Bozinowski Spassov, o Chaves de Karoglan, o Braga de Forbs e dos Chiquinhos, o Guimarães de Ziad, N'Dinga e Basaula, o Marítimo de Ewerthon e Alex, União da Madeira de Zivanovic e Jokanovic, Gil Vicente de Drulovic ou Capucho, Boavista de Ricky, Marlon Brandão e João Pinto, o Beira-Mar de Sousa e Dino, o Setúbal do fabuloso Yekini, o Salgueiros de Milovac e muitos outros que davam um brilhantismo diferente ao futebol. Não que fosse melhor... mas era diferente.
Alturas houve que derbies Benfica-Sporting não tinham transmissão televisiva e eram ao Domingo à tarde. Na altura, não gostava. Queria ver o meu Sporting, mas a verdade é que hoje, quando olho para trás, sinto falta desses jogos. De acompanhar apenas a ouvir.
Por mais estranho que possa parecer até dos Trigos, Garridos, Coroados, Pratas, Isidoros e outros sinto falta.

Hoje em dia tudo é diferente. Os históricos afundam-se, os grandes já não são clubes, são SAD's, o mercado africano e de Leste está cada vez mais longínquo e os jogos à tarde são... 4 no máximo. Em vez dos anteriores dois que mereciam transmissão televisiva, hoje são 5.
Espero que daqui a dez anos não volte a pensar o mesmo sobre o futebol de hoje.
Para o bem do futebol, espero que Setúbal, Estoril, Paços de Ferreira não desapareçam por dificuldades financeiras, a arbitragem esteja ainda mais em discussão, os clubes tenham cada um o seu calendário sem respeitar os "horários do público" e os grandes se sintam na necessidade de vender inclusivamente as cores e o nome do próprio clube".

Artigo de Rui Silva
Publicado às 15:14


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